Comer carambola ou tomar seu suco pode ser fatal para pacientes com insuficiência renal crônica devido a uma toxina presente na fruta que deixa de ser filtrada pelos rins. A novidade é que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram isolar e caracterizar a toxina para entender como ela age no organismo. Os autores batizaram a substância de caramboxina, para facilitar a associação com o nome do fruto Averrhoa carambola. O estudo, que busca alertar para os perigos da ingestão da toxina, estampou a capa da edição do dia 7 de novembro da revista Angewandte Chemie International, com status de VIP (Very Important Paper).
Os estudos começaram em 1998 e os primeiros resultados surgiram no início dos anos 2000. O isolamento da substância não foi tarefa fácil, porque a caramboxina, quando misturada em água e armazenada em temperatura ambiente, sofre uma reação que altera sua configuração e a torna completamente inativa. Segundo os pesquisadores Norberto Peporine Lopes e Norberto Garcia-Cairasco, professores respectivamente da Escola de Ciências Farmacêuticas e da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, o trabalho exigiu a união de esforços de uma equipe multidisciplinar, como nefrologistas clínicos, neurocientistas básicos e químicos estruturais e de síntese. As frutas usadas para isolar e estruturar a toxina foram colhidas de árvores que não foram tratados com pesticidas.
Testes com extrato bruto de carambola (suco) foram feitos em animais de laboratório com insuficiência renal, a fim de simular a situação dos pacientes, descrevem os responsáveis pela pesquisa. “Os animais tomaram o suco concentrado, o que produziu efeitos semelhantes aos de pacientes nas mesmas condições, incluindo convulsões e eventuais óbitos”, explica Garcia-Cairasco, lembrando que é impossível comprovar tais sintomas sem o uso de modelos animais. Os dados mais conclusivos sobre caracterização neuroquímica e neurofarmacológica da toxina foram obtidos em modelos in vitro.
Quando o fruto e/ou seu suco são consumidos por pacientes acometidos de insuficiência renal ou lesão aguda nos rins, ou por indivíduos diabéticos, a caramboxina pode induzir crises de soluços, vômito, confusão mental, agitação psicomotora, convulsões prolongadas (estado de mal epiléptico) e até a morte. Embora pessoas sem histórico de problemas renais não corram riscos, os pesquisadores recomendam que se evite abuso no consumo da carambola. Isso porque seu teor de ácido oxálico pode eventualmente produzir cálculos renais em indivíduos mais sensíveis. Isto predisporia aos efeitos neurotóxicos da caramboxina, afirma o professor Garcia-Cairasco.
Para os pesquisadores, os resultados do estudo podem ajudar a criar ferramentas para estudos de processos de excitabilidade e neurodegeneração do sistema nervoso ou mesmo para a produção de eventuais substâncias chamadas antagonistas. Para mais informações, acesse um estudo anterior que está disponível na Biblioteca Virtual.
Projeto
Desenvolvimento de uma plataforma para o estudo do metabolismo in vivo e in vitrode produtos naturais, uma necessidade para o sistema de ensaios pré-clínicos (nº 09/51812-0); Modalidade: Auxílio à Pesquisa – Programa BIOTA – Temático;Coord.: Norberto Peporine Lopes/USP; Investimento: R$ 1.563.792,01 (FAPESP)
Artigo
Fonte: Revista Fapesp on line
Por: Júlio César
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