Pesquisadores da USP testam
uma alternativa indolor, de baixo custo e com poucos efeitos colaterais para o
tratamento da depressão.
Trata-se da estimulação com
corrente elétrica contínua. E, ao que indica um estudo publicado pelo grupo no
"Jama Psychiatry", revista da Associação Médica Americana, a técnica
é eficaz.
Na pesquisa, 120 pessoas com
depressão foram divididas em grupos para avaliar a eficácia da técnica, do
antidepressivo sertralina (um inibidor da recaptação da serotonina) e da
combinação dos dois tratamentos.
Drogas e estimulação tiveram
resultados similares e, juntas, um resultado ainda melhor. Entre os que usaram
as terapias combinadas, 63% tiveram alguma melhora.
Desses, 46% tiveram remissão,
ou seja, a ausência completa de sintomas.
Segundo André Brunoni,
psiquiatra do Hospital Universitário da USP e principal autor da pesquisa, esse
é o primeiro estudo a comparar o tratamento com antidepressivos e a
combiná-los.
A explicação para o sucesso
dessa soma ainda precisa ser confirmada por exames de imagem, mas os
pesquisadores imaginam que a estimulação e o remédio atuem em diferentes
regiões do cérebro ligadas à depressão.
A técnica, ainda experimental,
tem poucos efeitos colaterais (no estudo, foram observados vermelhidão na área
da cabeça onde os eletrodos foram posicionados e sete episódios de mania) e
custo relativamente baixo.
O aparelho é simples de ser
fabricado, pode ser portátil e custa de R$ 500 a R$ 1.000, segundo Brunoni.
Um aparelho de estimulação
magnética transcraniana (técnica de neuromodulação não invasiva mais estudada e
que recebeu o aval para depressão no Brasil em 2012) chega a custar de US$ 30 mil
a US$ 50 mil (R$ 59 mil a R$ 119 mil).
CONVINCENTE
A estimulação por corrente
contínua não é novidade --pesquisas em humanos para depressão e esquizofrenia
são feitas desde a década de 1960. Os estudos foram retomados a partir de 1990,
mas a quantidade é pequena.
"Até esse estudo da USP,
os resultados desse tipo de estimulação não eram muito convincentes. Talvez
isso se modifique agora", afirma Marcelo Berlim, professor assistente do
departamento de psiquiatria da Universidade McGill, em Montréal, Canadá, e
diretor da clínica de neuromodulação da instituição.
"É um avanço importante,
mas não significa que vamos usar amanhã na prática clínica. Precisamos de mais
estudos", diz Brunoni.
Berlim afirma que um dos
entraves para que sejam feitas pesquisas maiores para a aprovação da técnica é
a falta de investimento de grandes fabricantes do aparelho.
"Como ele é simples e
barato, não há interesse por parte da indústria em desenvolver pesquisas de
milhões de dólares", afirma o psiquiatra.
ELETROCHOQUE
Bobinas e eletrodos na cabeça
não são exclusividade da estimulação elétrica por corrente contínua. Duas
técnicas similares, que têm em comum a ausência de medicação, são usadas e
aprovadas para depressão no país.
A eletroconvulsoterapia,
conhecida como eletrochoque, é a mais invasiva. O paciente recebe anestesia
geral, e os eletrodos induzem uma corrente elétrica no cérebro que provoca a
convulsão, alterando os níveis de neurotransmissores e neuromoduladores, como a
serotonina.
Ela é indicada para depressão
profunda e em situações em que o paciente não responde aos medicamentos.
Seus efeitos cognitivos,
porém, são indesejáveis e incluem perda de memória. Os defensores da técnica
dizem que o problema é temporário.
Já a estimulação magnética é
indolor e não requer anestesia, assim como a que usa corrente contínua.
Uma bobina, que é apoiada na
cabeça do paciente, gera um campo magnético que afeta os neurônios, ativando-os
ou inibindo-os. As ondas penetram cerca de 2 cm.
Em maio de 2012, o CFM
(Conselho Federal de Medicina) aprovou a técnica para tratamento de depressões
uni e bipolar (que pode causar oscilações de humor) e de alucinações auditivas
em esquizofrenia e para planejamento de neurocirurgia.
O IPq (Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP), centro pioneiro em pesquisas com
estimulação magnética no país, estuda a aplicação para depressão desde 1999.
"A estimulação por
corrente contínua está hoje onde a estimulação magnética estava há 15
anos", afirma o psiquiatra André Brunoni.
Fonte:
Folha de São Paulo – on line
Por:
MARIANA VERSOLATO DE SÃO PAULOImagem: Editora de arte/FolhaPress
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