Na década de 1960, a pílula
anticoncepcional quase que eliminou o risco de gestações indesejadas, criando a
era do "amor livre" e a revolução sexual no Ocidente --frutos também
de mudanças culturais.
Mas um novo estudo mostra que
a tal revolução começou anos antes, graças ao uso disseminado da penicilina
para combater a sífilis --doença venérea que chegou a ser proporcionalmente tão
letal quanto a Aids seria depois.
Os dados coletados pelo
economista Andrew Francis são persuasivos. Francis, professor da Universidade
Emory, de Atlanta, no sul dos EUA, publicou sua análise na revista científica
"Archives of Sexual Behavior".
CURA FÁCIL
É simples. A penicilina
reduziu muito o risco de morrer de sífilis. Quem pegava a doença podia ser
facilmente curado. E quanto maior e melhor a chance de fazer sexo
"arriscado", fora do casamento, com estranhos, na adolescência, mais
as pessoas procuravam a atividade.
Francis, um economista,
compara a atitude das pessoas com a clássica lei da oferta e da procura. O
custo da mercadoria baixou? As pessoas compram mais. Também vale para o sexo.
Em uma década, entre o fim dos
anos 1940 e os anos 1950, a incidência de sífilis caiu 95% e a mortalidade pela
doença despencou 75%, enquanto as taxas de nascimentos de bebês concebidos fora
do casamento, a gravidez na adolescência e a incidência da gonorreia
--indicadores usados pelo pesquisador para detectar o comportamento sexual mais
liberal-- subiam nos EUA.
Para Francis, essa mudança de
atitude pode ter surgido por esses homens acharem que o risco de transmissão é
menor por causa da terapia antirretroviral ou pela crença de que contrair o HIV
não é mais temível porque os remédios prolongam a expectativa de vida das
pessoas infectadas com o vírus.
O economista diz que a
penicilina pode ter tido um efeito similar no comportamento sexual e, portanto,
a propagação do HIV década atrás pode ter sido facilitada pelo colapso da
sífilis.
Apesar de o trabalho só ter
usado números dos Estados Unidos, Francis acredita que suas conclusões se
aplicam a outros países.
"Certamente o colapso da
sífilis por causa da penicilina é um fator importante por trás da mudança de
comportamento sexual outras regiões", disse o economista à Folha.
Fonte: Folha de São
Paulo on line
Por: Ricardo
Bonalume Neto
Imgem: Lydia
Megumi/Editoria de Arte/Folhapress
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