Há décadas
os cientistas sabem que a capacidade de recordar informações novas entra em
declínio com a idade, mas não era claro por quê. Um novo estudo traz parte da
resposta.
O trabalho,
publicado neste domingo (27) na revista "Nature Neuroscience", sugere
que mudanças estruturais no cérebro que acontecem naturalmente com a idade
interferem na qualidade do sono, o que prejudica a habilidade de guardar novas
lembranças por um longo prazo.
Pesquisas
anteriores já haviam descoberto que o córtex pré-frontal, região do cérebro
atrás da testa, tende a perder volume com a idade, e que parte dessa região
ajuda a manter a qualidade do sono, crucial para consolidar novas memórias. O
novo experimento foi o primeiro a ligar mudanças estruturais diretamente com
problemas de memória relacionados ao sono.
Os
resultados sugerem que uma forma de retardar o declínio da memória em adultos
mais velhos é melhorar o sono, especificamente a fase de ondas lentas, que
constitui um quarto de uma noite normal.
Os médicos
não podem reverter as mudanças estruturais que ocorrem com a idade assim como
não podem fazer o tempo voltar atrás. Mas ao menos dois grupos estão
experimentando com a estimulação elétrica como forma de melhorar o sono
profundo em pessoas mais velhas.
Colocando
eletrodos no couro cabeludo, os cientistas conseguem passar uma corrente baixa
pela área pré-frontal, essencialmente mimetizando o formato das ondas de sono de
alta qualidade.
O resultado
é a melhora da memória, ao menos em alguns estudos. "Há muitas outras
formas de melhorar o sono, incluindo exercícios", afirmou Ken Paller,
professor de psicologia e diretor do programa de neurociência cognitiva na
Universidade Northwestern, nos EUA.
Paller disse
que uma série de mudanças ocorre no cérebro durante o envelhecimento e que o o
sono é só um dos fatores afetando as funções da memória.
Mas, para
ele, o estudo conta uma história convincente. "A atrofia é relacionada ao
sono de ondas lentas, que sabemos ser ligado à performance da memória. Então é
um fator contribuinte."
No estudo,
uma equipe da Califórnia fez imagens do cérebro de 19 aposentados e de 18
jovens na casa dos 20 anos. O time viu que uma área do cérebro chamada córtex
pré-frontal medial, atrás do meio da testa, era um terço menor, em média, nos
mais velhos do que nos mais novos --uma diferença atribuída à atrofia natural
do envelhecimento, segundo pesquisas anteriores.
Antes da
hora de dormir, a equipe fez os dois grupos estudarem uma longa lista de
palavras pareadas com sílabas sem nexo, como "ação-siblis" ou
"braço-reconver". A equipe usou essas "não palavras" porque
um tipo de memória que declina com a idade é a que grava novas informações
nunca vistas antes.
Depois de
treinar esses pares por meia hora, mais ou menos, os voluntários fizeram um
teste. Os jovens superaram os velhos por 25%.
Então todos
foram dormir --e diferenças maiores apareceram. Os mais velhos dormiram só um
quarto do tempo em sono de alta qualidade em relação aos mais jovens, conforme
as medições de um aparelho de eletroencefalograma. Acredita-se que as memórias
se transformam de temporárias em definitivas durante esse sono profundo.
Em um
segundo teste, realizado de manhã, o grupo jovem superou o mais velho em 55%. A
proporção de atrofia em cada pessoa mais ou menos previu a diferença de
resultados entre os testes feitos à noite e de manhã, segundo o estudo. Até os
idosos que foram melhor à noite mostraram declínio depois do sono.
"A análise
mostra que as diferenças se deram não por mudanças na capacidade das memórias,
mas na diferença da qualidade do sono", disse Bryce Mander, pós-doutorando
na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e líder do estudo. Seus coautores
incluíram pesquisadores do Centro Médico Califórnia Pacífico, em San Francisco,
da Universidade da Califórnia em San Diego e do Laboratório Nacional Lawrence
Berkeley.
Os achados
não querem dizer que a atrofia da região pré-frontal medial é a única mudança
ligada à idade causando problemas de memória, segundo Matthew Walker, professor
de psicologia e neurociência na Universidade da Califórnia em Berkeley e
coautor do estudo.
"Mas
esses achados estão relacionados", disse ele. "Essencialmente, com o
tempo, quanto menos tecido você tem nessa área pré-frontal, menos e menos
qualidade de sono profundo você tem e menos você se lembra do conteúdo que
acaba de aprender”
Por: BENEDICT CAREY
DO "NEW YORK TIMES
http://www1.folha.uol.com.br/DO "NEW YORK TIMES
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