Mariana do Espírito Santo, 7, em tomógrafo no Instituto da Criança, em SP, com a mãe
Novo método adotado no Instituto da
Criança do HC permite retirar menos sangue nos testes laboratoriais
Uso de tomógrafo que emite 70% menos
radiação também faz parte do projeto, que servirá de modelo
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CLÁUDIA COLLUCCI - SP
Menos exames, menos radiação, menos sangue coletado. Esse é o mote de um programa de humanização e segurança criado no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, que deve servir de modelo para outros hospitais infantis do SUS.
O projeto envolveu a adoção de um novo
método de análise laboratorial, que diminuiu em até 75% o volume de sangue
coletado nas crianças, e a compra de um tomógrafo que faz exame com 70% menos
radiação.
Em alguns hospitais privados, como o
Sabará (SP), essas tecnologias já existem.
O caso da pequena Alícia, de três
meses, é um exemplo real do impacto da mudança. A menina nasceu com uma
malformação no intestino e já precisou se submeter a nove coletas de sangue.
Se fosse pelo método convencional,
teriam sido retirados 10,8 ml de sangue da garota. Com o micrométodo, que usa
tubos com a metade do tamanho dos tradicionais, foram necessários 5,6 ml, uma
redução de 48%.
Segundo Marcília Sierro Grassi,
neonatologista da UTI do instituto, a mudança de método teve um impacto também
no número de transfusões de sangue. "A Alícia só teve de fazer uma. Se
fosse pelo método convencional, já teria precisado de mais."
Em crianças prematuras, as coletas de
sangue para exames são as principais causas das transfusões. Um bebê de 1 kg
tem 100 ml de sangue circulando no corpo, o que equivale a uma xícara.
"Em cada coleta, a gente tira 10%
[desse volume]. Tem criança que precisa de duas, três coletas por dia",
diz Magda Carneiro-Sampaio, professora titular do instituto e coordenadora do
projeto.
O Instituto da Criança realiza cerca de
18,5 mil coletas de sangue por mês. Em 84% delas, será possível usar o
micrométodo. O restante, exames mais complexos, demanda o método convencional.
TOMOGRAFIAS
Em relação às tomografias, além da
compra do novo aparelho que emite menos radiação, o programa vai também motivar
médicos a pedir o exame só em situações realmente necessárias.
Nos últimos anos, vários estudos vêm
demonstrando uma relação direta da radiação de exames (raios-X e tomografias)
ao aumento do risco de câncer, especialmente quando se trata de crianças.
Isso desencadeou um movimento mundial
que defende a limitação de exames radiológicos na infância e a fabricação de
equipamentos que minimizem a exposição à radiação ionizante.
"Tem muito diagnóstico que pode
ser feito com ultrassom [que não emite a radiação]. Outros nem precisam de
exames de imagem. Basta uma anamnese e um bom exame clínico", diz Magda.
É essa a mensagem que o programa também
pretende propagar entre os residentes que atuam no instituto e no complexo HC.
"Os médicos deixaram de examinar,
a população de deixou de acreditar nos médicos, e o exame tomou conta da
clínica. Isso é uma inversão. A gente quer que o médico pare e pense: 'Será que
um raio-X vai informar mais do que o meu estetoscópio está me dizendo?"
O cirurgião pediátrico Uenis Tannuri,
professor da USP, vai ainda mais longe. "Eu brigo com os meus residentes.
Ando com a pesquisa que relaciona radiação com câncer e fico mostrando para
eles. Não deixo que peçam exames desnecessários. Esse pecado eu não vou levar
para o túmulo."
Testes em miniatura
0,50 ml de sangue é coletado para realizar um hemograma usando
os instrumentos convencionais . 0,25 ml de sangue é coletado para o mesmo exame
com o método especial para crianças
A REDUÇÃO É DE 50% no
volume coletado
100 ml de sangue é o total circulante em um bebê prematuro com
1 kg. 2,8 ml de sangue são coletados para a realização de um exame
que avalia a coagulação. 0,8 ml de sangue é retirado usando o micrométodo, que usa tubos
e uma máquina especial
A REDUÇÃO É DE 71,4% no volume coletado
84% dos 18,5 mil testes de sangue feitos por mês no Instituto da Criança poderão
usar o método.
Fonte: Folha de São Paulo – sábado, 25
de agosto de 2012
Imagem: Karime Xavier/Folhapress
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