Médicos do
Hospital Samaritano, em São Paulo, realizaram um transplante de rim entre mãe e
filha cujos tipos sanguíneos eram incompatíveis para a cirurgia.
A estudante Flávia
Grillo, 29, de Volta Redonda (RJ), recebeu um rim da mãe, Nícia Maria Campos
Grillo, 63, no fim de outubro de 2012. A operação só foi divulgada agora.
Segundo a
nefrologista Maria Cristina Ribeiro de Castro, do Centro de Transplante Renal
do Hospital Samaritano, esse é o primeiro transplante do tipo realizado no
Brasil.
A médica explica que, para achar um doador de rim,
é preciso verificar a compatibilidade dos tipos sanguíneos e do sistema HLA,
espécie de identidade das nossas células. O HLA é hereditário, então sempre há
uma compatibilidade de 50% com os pais, o que já é suficiente para um
transplante de rim.
"O problema é que parentes podem ser
compatíveis por HLA mas ter tipos sanguíneos diferentes", diz Castro.
Flávia Grillo tinha sangue tipo O e sua mãe, tipo A. Pelo sistema ABO, uma pessoa com sangue O só poderia receber transplante de outra com o mesmo tipo sanguíneo.
"Tradicionalmente não se faz esse transplante
e a pessoa acaba tendo de ir para a fila esperar um doador falecido", diz
a médica.
Estima-se em 30% a parcela de doadores que são
rejeitados por incompatibilidade sanguínea.
Para contornar esse problema e realizar a operação
em Flávia, que fazia hemodiálise havia cinco anos, desde sofrer uma falência
renal causada por lúpus, uma doença autoimune, foi usado um procedimento
especial.
A paciente foi internada 15 dias antes da operação
e submetida a sessões de plasmaférese, um procedimento que "limpa" o
plasma sanguíneo, retirando os anticorpos anti-A de circulação. Foram nove
sessões antes da cirurgia e três depois.
"Passava mal, sentia frio, o braço inchou, mas
dava para aguentar. Não pensei em desistir, nem passou pela minha cabeça",
diz Flávia.
Sem isso, afirma a médica responsável pelo
transplante, o rim incompatível seria perdido em uma semana.
"Quando os anticorpos estavam em um nível
seguro, fizemos o transplante e os mantivemos num nível baixo até agora. Isso
permite que ela tenha um órgão funcionando e a tirou da lista de
transplantes", afirma Castro.
A estudante continua tomando remédios
imunossupressores como qualquer paciente após transplante. Ela recebeu alta 20
dias depois da cirurgia. "Já voltei a fazer as aulas de inglês e vou
começar a faculdade de turismo no Rio", conta Flávia.
A operação foi feita por meio de uma parceria entre o hospital e o Ministério da Saúde. Segundo a nefrologista, outros 29 procedimentos serão realizados nos próximos dois anos para avaliar a eficácia da técnica.
"Imaginamos que, se isso se consolidar, vamos
aumentar a chance de doação entre familiares e reduzir a fila."
Para o presidente da ABTO (Associação Brasileira de
Transplante de Órgãos), José Medina Pestana, esse tipo de procedimento é
trabalhoso e caro e não deve se tornar rotina. Por causa da filtragem dos
anticorpos, o paciente tem maior risco de infecções.
"O
melhor para aumentar o número de transplantes de rim é melhorar a captação de
órgãos no país", diz Medina.
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FONTE: Folha on line por Débora Mismetti
EDITORA: INTERINA DE
"CIÊNCIA+SAÚDE"
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