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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Nova curva de crescimento avalia bebês ainda no útero

Padrão internacional pode ajudar a detectar problemas de nutrição durante o desenvolvimento fetal

Toda mãe sabe da importância de curvas de crescimento para avaliar o desenvolvimento do feto e do bebê. Mas até agora não havia uma curva validada para crescimento fetal. Isso muda com a publicação de dois artigos na revista The Lancet de 6 de setembro. Um dos artigos propõe um padrão internacional para o desenvolvimento dos bebês durante a gestação. Outro apresenta um intervalo de valores considerados adequados para um recém-nascido saudável. De acordo com coordenador do trabalho, o argentino José Villar, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o novo padrão indica que ao menos 30 milhões de bebês já nascem subnutridos a cada ano. Quanto mais cedo o problema for detectado, mais tempo se tem para tentar corrigir a alimentação e evitar sequelas que podem chegar à idade adulta.
Tamanho do feto pode ser comparado ao padrão desde o início da gestação
Tamanho do feto pode ser comparado ao padrão desde o início da gestação
As curvas de crescimento propostas agora foram desenvolvidas pelo Consórcio Internacional sobre Crescimento Fetal e de Recém-nascidos para o Século XXI (Intergrowth-21st) reuniu mais de 300 pesquisadores de 27 instituições. Ao longo de 5 anos, foram medidos o comprimento, o peso e a circunferência da cabeça de quase 60 mil bebês nascidos em áreas urbanas do Brasil, da China, da Índia, da Itália, do Quênia, de Omã, do Reino Unido e dos Estados Unidos. Com esses dados, os pesquisadores propuseram uma faixa de valores esperados para um bebê que se desenvolveu sem privação de nutrientes apresentar nos primeiros minutos após o nascimento. O projeto também monitorou o crescimento de quase 4.500 desses bebês do início ao fim da gestação, por meio de medições semelhantes feitas em ultrassonografias, e criou curvas que mostram o crescimento esperado do feto no interior do útero . “A impressão é que vai aumentar a proporção de recém-nascidos no mundo que vai ser considerada com crescimento intrauterino deficiente”, prevê o pediatra Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que integra o consórcio junto com o colega César Victora.

Uma mudança importante introduzida pelo consórcio é a constatação de que os fetos seguem a mesma curva de crescimento nas diferentes populações estudadas, independentemente da estatura média dos adultos, conforme mostra artigo publicado em julho pelo mesmo grupo na Lancet Diabetes & Endocrinology. Barros prevê que o resultado causará discussão, já que muitos médicos preconizam a adoção de curvas adaptadas à realidade de cada população.

O problema é que, em populações nas quais deficiências alimentares são frequentes, o uso de uma curva local pode mascarar a subnutrição em fetos. Para contornar essa dificuldade, o Intergrowth-21st adotou como padrão gestantes em boa saúde e com bom padrão socioeconômico. “O estudo mostra que, se pegamos mulheres com as mesmas condições, o bebê vai crescer igual. Se esse padrão de crescimento vai continuar vida afora é outra coisa, uma vez que o ambiente exercerá sua influência por meio de fatores como infecções e alimentação”, explica o pesquisador gaúcho.

No Brasil, a cada ano nascem cerca de 3 milhões de bebês. De agora em diante os médicos têm uma boa ferramenta para avaliar a necessidade de cuidados adicionais para que essas crianças se desenvolvam da melhor maneira possível.

 
Fonte: Revista Fapesp on line edição setembro de 2014
MARIA GUIMARÃES e RICARDO ZORZETTO

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