Colaboradores

sábado, 28 de setembro de 2013

BIOMEDICINA - DIA DA UNIVERSIDADE ABERTA

Alunos e professores do curso de Biomedicina no evento promovido pela Universidade Metodista de São Paulo!

Parabéns!!!! Vocês foram maravilhosos!!!! Ano que vem tem mais!!!!!

“O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos.” 
Michael Jordan

EQUIPE - CAMPUS RUDGE RAMOS






























terça-feira, 17 de setembro de 2013

Foto tirada em Canudos é premiada com o segundo lugar em concurso promovido pela ONU

A autoria é do professor Victor Bigoli, coordenador dos projetos de extensão da Faculdade de Saúde

 Com a foto “O guardião do vilarejo” tirada durante o Projeto Canudos, na cidade de Canudos Velho no sertão baiano, o professor Victor Bigoli obteve o segundo lugar no Concurso de Fotografia Renove tua Cidade, promovido pelo Fórum Ibero-americano e do Caribe sobre Melhores Práticas, ligado às Nações Unidas.
O docente comenta que sua paixão pela fotografia começou em 2009, quando participou pela primeira vez do Projeto Rondon. “Adoro fotografar e, com a Extensão, as inspirações vêm a todo o momento”.
A participação foi aberta a pessoas de qualquer idade e país com a condição de que as imagens deveriam ser de inovações urbanas na América Latina, acompanhadas de uma breve explicação de como essa atividade produziu uma mudança positiva.
O Projeto Canudos é uma atividade de extensão coordenada pela Metodista e realizada em parceria com o Instituto Brasil Solidário para atendimento à comunidade de Canudos Velho. Multidisciplinar, na última edição, realizada em julho, envolveu 42 alunos dos cursos de Biomedicina, Fisioterapia, Odontologia, Psicologia, Pedagogia, Educação Física, Engenharia Ambiental, Jornalismo e Rádio, TV e Internet, além de Medicina, Farmácia, Enfermagem, da Faculdade de Medicina do ABC, que participou a convite da Metodista.

Fonte:http://www.metodista.br/noticias/2013/setembro/foto-tirada-em-canudos-e-premiada-com-o-segundo-lugar-em-concurso-promovido-pela-onu/view

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Parceria contra a obesidade: Pesquisadores brasileiros e alemães trabalham em busca de uma droga eficaz para a doença

Imagem de tecido adiposo: peptídeos que têm relação direta com o desejo de ingerir alimentos são alvo do projeto de pesquisa
Imagem de tecido adiposo: peptídeos que têm relação direta com o desejo de ingerir alimentos são alvo do projeto de pesquisa
Considerada um grave problema de saúde pública, a obesidade atinge 17% dos brasileiros com mais de 20 anos, enquanto o excesso de peso afeta metade da população, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mundo, estima-se que os obesos formem um contingente de 500 milhões de pessoas sem que exista um tratamento medicamentoso confiável e com resultados duradouros para a enfermidade. Num esforço para descobrir uma droga eficaz que combata o mal, um grupo de pesquisadores do Brasil e da Alemanha selou no primeiro semestre deste ano um acordo de cooperação internacional, cujo foco é o estudo das cininas, uma família de peptídeos gerada no sangue e nos tecidos que tem relação direta com o desejo de ingerir alimentos e outros parâmetros clínicos, como processos inflamatórios e pressão arterial. A ideia dos cientistas é comprovar a participação e a eficácia do uso de antagonistas de cininas como possíveis drogas antiobesidade. Antagonistas são moléculas capazes de bloquear a ação de determinada substância – nesse caso as cininas.

“O acordo contempla uma colaboração entre a nossa equipe e a do professor Michael Bader, do Max Delbrück Center for Molecular Medicine (MDC), da Alemanha. Queremos buscar um aprofundamento de modelos animais que comprovem a importância das cininas no fenômeno da obesidade”, diz o biólogo molecular João Bosco Pesquero, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A colaboração entre os dois grupos envolve um projeto de auxílio regular à pesquisa da FAPESP e um projeto similar financiado pelo Helmholtz Association of German Research Centers, agência de fomento à pesquisa alemã com orçamento anual de € 3,76 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões) e 18 institutos vinculados. O acordo foi firmado por iniciativa dos próprios pesquisadores, sem que houvesse um convênio ou acordo prévio entre a FAPESP e o Helmholtz. A maioria dos auxílios e bolsas concedidos pela Fundação, como o auxílio regular pedido por Pesquero, inclui recursos que podem ser utilizados, a critério do pesquisador responsável e de acordo com as regras da FAPESP, para a colaboração internacional na pesquisa. Esse é o primeiro projeto de colaboração entre pesquisadores apoiados pelas duas instituições.

“A cooperação entre o Brasil e a Alemanha tem se intensificado ao longo dos anos e quando o professor Jürgen Mlynek, presidente da Helmholtz, esteve no Brasil em 2011, demonstrou muito interesse numa cooperação científica entre os dois países”, conta Pesquero. “Eu e o professor Bader decidimos que iríamos iniciar a colaboração e, como não tínhamos nenhum acerto entre as duas fundações, nenhuma regra preestabelecida, pedi um projeto regular de pesquisa à FAPESP para dar o pontapé inicial. Nós aprovamos o projeto aqui e o professor Bader fez o mesmo lá, com o Helmholtz.” O mesmo projeto – Cininas como novos alvos da obesidade – foi submetido nos dois países para obtenção dos dois financiamentos. O auxílio da Helmholtz tem duração de três anos, com aportes anuais de € 50 mil (cerca de R$ 160 mil), enquanto o da FAPESP é de R$ 267 mil no período de dois anos.

Camundongos transgênicos
No âmbito dos estudos que serão realizados, os modelos animais têm importância primordial porque são camundongos transgênicos em que foram desligados os genes relacionados aos receptores B1, responsáveis pela transmissão das ações das cininas. Estudos feitos anos atrás pelos dois grupos demonstraram que o receptor B1 está intimamente envolvido na sinalização da leptina, um hormônio que funciona como modulador de apetite. Níveis elevados dessa substância no sangue reduzem a fome da pessoa. Camundongos deficientes em receptores B1 criados pelo grupo no passado foram resistentes à obesidade induzida por dieta rica em gordura (ver Pesquisa Fapesp n° 189).

Mudança no sistema nervoso
Agora a ideia é aprofundar essa investigação e tentar descobrir exatamente qual tipo de receptor B1 – já que ele é encontrado no tecido adiposo e em diversos órgãos – teria relação direta com a obesidade. Nas pesquisas conjuntas anteriores eles constataram que ocorre uma mudança no sistema nervoso central do animal transgênico sem o receptor B1, levando ao aumento da expressão de um hormônio que controla o apetite chamado Cart (Cocaine and Amphetamne-Related Transcript). “Como o receptor B1 está presente em diferentes tecidos e células, incluindo o cérebro, a finalidade desse modelo será testar a hipótese de que o fenótipo que vemos no animal, que não engorda, de resistência à obesidade é devido à retirada do receptor expresso nas células do sistema nervoso”, explica Pesquero. “Portanto, se a hipótese estiver correta, ao aumentarmos a expressão do receptor B1 nessas células devemos observar um efeito contrário. São formas diferentes de testar uma hipótese geneticamente.” Uma consequência direta dessa nova investigação – caso a hipótese proposta se mostre acertada – é a geração de possíveis drogas antiobesidade baseadas no antagonista do receptor B1 capazes de chegar até o cérebro para ter melhor eficácia. “Para isso, a nova droga deverá ter uma estrutura tal que a permita ser capaz de atravessar a barreira hematoencefálica”, diz Pesquero.

No recém-firmado acordo internacional, com duração prevista de três a quatro anos, o papel do grupo alemão será produzir os novos animais transgênicos. “Meu grupo trabalha em vários sistemas hormonais envolvidos no controle cardiovascular, entre eles o relacionado às cininas”, afirma o biólogo molecular Michael Bader. “Nós geramos modelos de ratos e camundongos com alteração dos genes envolvidos nesses processos. Ao analisar esses animais, podemos descobrir novas funções relativas a esses sistemas geralmente com relevância terapêutica.” Assim que o camundongo transgênico for gerado e caracterizado nos laboratórios do MDC, entrará em ação a equipe da Unifesp, que ficará responsável por realizar os experimentos fisiológicos com o animal. “Vamos colocá-lo sob dieta hiperlipídica e avaliar diferentes parâmetros como massa corporal, quantidade de gordura, concentração e resposta a vários hormônios ligados ao metabolismo”, explica o professor da Unifesp.

Não é de hoje que Bader e Pesquero realizam trabalhos em conjunto. A primeira colaboração entre eles remonta a 1992, quando o brasileiro foi para a Alemanha fazer seu pós-doutorado no MDC e conheceu o colega alemão. Pesquero passou quatro anos no país – dois com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e outros dois com financiamento do governo alemão – e, desde então, tem mantido contatos com Bader. Ao voltar para o Brasil, assumiu o cargo de professor do Departamento de Biofísica da Unifesp. “Durante vários anos, muitos alunos meus, que hoje são pesquisadores ou docentes da universidade e de outras instituições brasileiras, tiveram a oportunidade de desenvolver parte de seu trabalho no Max Delbrück com o grupo do professor Bader.” Em 2003 os dois depositaram, em conjunto com outros colaboradores das respectivas equipes, uma patente sobre a ação de drogas no diabetes e na obesidade, intitulada Mecanismos e Drogas Utilizados no Tratamento de Diabetes e Obesidade e Controle dos Distúrbios da Fome.

Projeto
Cininas como novos alvos na obesidade (n° 2011/12909-8); Modalidade Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa; Coord. João Bosco Pesquero – Unifesp; Investimento R$ 147.025,00 e US$ 50.000,00 (FAPESP). 

FONTE: Revista Fapesp - setembro de 2013
Por: Yuri Vasconcelos
Ilustração: Astrid & Hanns-Frieder Michler / Science Photo Library

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Perigo Dissimulado da Intoxicação Alimentar



A maioria das pessoas pensa que as doenças transmitidas por alimentos se resumem a alguns dias desagradáveis com febre e diarreia. Mas, em alguns casos, pode haver consequências permanentes

Colette Dziadul levou anos para entender o problema que sua filha tinha nas articulações. Desde que começara a andar, Dana, hoje com 14 anos, queixava-se de dores nos joelhos e tornozelos. A menina não conseguia dormir, acordava os pais para pedir analgésicos e não podia participar das atividades físicas na escola. O diagnóstico de dois pediatras e um ortopedista foi “dores de crescimento” que desapareceriam com o tempo.

Então, quando a garota estava com 11 anos, Colette participou de um estudo sobre doenças transmitidas por alimentos. O questionário veio de uma entidade chamada Safe Tables Our Priority (atualmente STOP Foodborne Illness), que fazia um levantamento com sobreviventes de surtos epidêmicos em busca dos pormenores da recuperação. Aos 3 anos, Dana, uma das 50 pessoas infectadas por salmonela após a ingestão de melão contaminado, havia passado duas semanas em um hospital. A pesquisa incluía uma lista de complicações, entre as quais se encontravam sintomas de um tipo de dano nas articulações denominado artrite reativa.

Estupefata, Colette levou a filha a um reumatologista e ele confirmou que não havia outra explicação para a causa das dores da menina. Em seguida, a mãe reexaminou os registros médicos da criança. No décimo dia da internação, uma enfermeira anotou que a paciente mancava e se queixava de dores nas articulações. Teriam sido aqueles os primeiros sintomas da doença que começava a se desenvolver à medida que o organismo reagia à infecção? “Jamais imaginei que pudesse haver uma relação entre salmonela e artrite”, relata Collete. “Nem eu, nem a maioria dos médicos.”

É assustadora a ideia de que uma intoxicação alimentar, que pensamos durar apenas alguns dias, possa ter consequências permanentes. Sempre se acreditou que a incidência dessas seqüelas fosse baixa, mas poucos pesquisadores haviam se debruçado sobre a questão até pouco tempo atrás. Os resultados de estudos recentes de vários grupos científi cos, no entanto, parecem indicar que essas complicações são mais frequentes que se pensava.


UM PROBLEMA COMUM?

As doenças transmitidas por alimentos são uma gravíssima questão de saúde pública, mesmo levando-se em conta apenas os episódios agudos iniciais. Anualmente nos Estados Unidos há 48 milhões de casos, 128 mil internações e 3 mil óbitos relacionados a elas segundo estimativa feita em 2011 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, na sigla em inglês). (O Brasil não dispõe de estatísticas nesta área.) Já na União Europeia, houve 48.964 ocorrências e 46 casos fatais em 2009, o último ano pesquisado. De acordo com dados do Serviço de Pesquisas Econômicas do Ministério da Agricultura americano, as bactérias por si sós já acarretam um custo de pelo menos US$ 6,7 bilhões, considerando a assistência médica, mortes prematuras e perda de produtividade. Mas os pesquisadores que acompanham os efeitos crônicos dessas enfermidades afirmam que a conta é, na verdade, bem maior.

“As pessoas não compreendem as consequências como um todo das doenças transmitidas por alimentos”, lamenta Kirk Smith, da secretaria da Saúde do estado de Minnesota, que permite a seus profissionais atuar em todo o país. “Acham que, depois de alguns dias, a diarreia passa e acabou. Não entendem que há toda uma série de sequelas crônicas. Embora nenhuma seja comum em separado, o conjunto delas é importante.”
As complicações de longo prazo não se limitam aos doentes submetidos a internação hospitalar, como no caso de Dana, tendo sido observadas em pessoas que, aparentemente, haviam tido apenas episódios leves de febre, vômito e diarreia. Entre elas estão artrite reativa, afecções do trato urinário e danos oculares após infecções por salmonela e Shigella; síndrome de Guillain-Barré e colite ulcerativa (um tipo de infl amação intestinal crônica) depois de contaminação por Campylobacter; e insufi ciência renal e diabetes como consequência de intoxicações causadas por Escherichia coli O157:H7. Trata-se de organismos muito comuns: a fiscalização federal já os identificou em carne, leite, aves, ovos, frutos do mar, frutas, verduras e legumes e até mesmo alimentos processados.

À medida que estudam os dados sobre surtos de enfermidades transmitidas por alimentos, os pesquisadores não só confirmam a ocorrência dessas sequelas como também aumentam a lista delas. Um levantamento realizado com 101.855 habitantes da Suécia contaminados entre 1997 e 2004 revelou, por exemplo, uma incidência acima do normal de aneurisma aórtico, colite ulcerativa e artrite reativa. Durante a revisão de um amplo banco de dados de províncias australianas sobre saúde observou-se que a probabilidade de desenvolver colite ulcerativa ou doença de Crohn (uma enfermidade crônica intestinal) é 57% mais alta entre pessoas que tenham contraído infecções gastrointestinais de causa bacteriana que entre outros nascidos no mesmo local e na mesma época. Vários anos após um surto ocorrido em 2005 na Espanha, 65% das 248 vítimas relataram sofrer de dores ou rigidez nas articulações ou nos músculos, em comparação a 24% no grupo de controle, que não havia sido infectado.

Até hoje realizaram-se poucas pesquisas abrangentes nos Estados Unidos. Em geral, o objetivo da investigação de problemas relacionados a alimentos sempre foi encontrar e entrevistar pessoas afetadas durante os surtos, explica Smith. Como a fase aguda dura, no máximo, cerca de duas semanas, nunca houve preocupação em realizar a difícil tarefa de, após esse período, seguir o cotidiano dos pacientes, que podem consultar vários médicos e, até mesmo, mudar de estado diversas vezes.

Um dos estudos americanos, publicado em 2008, acompanhou vítimas nos estados de Minnesota e Oregon entre 2002 e 2004. Os pesquisadores definiram as pessoas a contatar com base nos registros para um projeto denominado Foodborne Diseases Active Surveillance Network (Rede de Vigilância Ativa de Doenças Transmitidas por Alimentos) (FoodNet), que reúne relatos de infecções por dez agentes distintos e confirmadas em exames laboratoriais. Dos 4.468 participantes, 575 (13%) apresentaram sintomas posteriores que correspondiam aos da artrite reativa, ainda que a maioria houvesse tido o diagnóstico de um especialista.

Talvez o vínculo entre as enfermidades em questão e as complicações de longo prazo não passe de coincidência. Ainda assim, trata-se de uma possibilidade remota segundo os defensores da referida ligação, que, na verdade, poderia ser comprovada de maneira mais eficiente se houvesse uma identificação das vítimas já no aparecimento dos primeiros sintomas e um acompanhamento posterior durante anos, no que se denomina estudo prospectivo. Uma das poucas pesquisas desse tipo em todo o mundo (e a única na América do Norte) foi concluída há pouco, com resultados impressionantes e convincentes.
Em maio de 2000 houve uma contaminação da água potável de Walkerton, na província canadense de Ontário, por E. coli O157:H7 após fortes chuvas que transportaram esterco de fazendas das cercanias para o aquífero local. Mais de 2.300 pessoas, cerca de metade da população da cidade, tiveram febre e diarreia em seguida. Em 2002, o governo provincial financiou um estudo para avaliar quaisquer efeitos de longo prazo entre as vítimas. Os resultados foram publicados em 2010. Em comparação com os habitantes nos quais a infecção foi leve, os que tiveram diarreia por vários dias durante o surto apresentavam uma probabilidade 33% maior de desenvolver hipertensão, além de um risco 210% mais alto de ter infarto agudo do miocárdio ou AVC e 340% mais elevado de sofrer afecções renais nos oito anos pesquisados.

Mas essas complicações não se limitaram aos indivíduos mais afetados pela enfermidade causada pela bactéria. Houve casos de problemas circulatórios (cuja relação com esse microrganismo não teria sido estabelecida sem o acompanhamento prospectivo) mesmo entre os que relataram apenas sintomas mais leves. Para William F. Clark, coordenador do estudo e professor de nefrologia da University of Western Ontario, essa descoberta indica a possibilidade de serem muito frequentes os efeitos de aparecimento tardio da infecção por E. coli. Assim, o pesquisador recomenda que pessoas que tenham tido essa doença meçam a pressão anualmente e se submetam a um exame das funções renais a cada dois ou três anos.

Como a questão foi muito pouco investigada a maioria das complicações veio à tona graças à atuação de grupos de defesa de pacientes, cujos relatos formaram a base do levantamento da STOP de que participou Colette Dziadul. Em 2009 foi publicado o guia da entidade sem fins lucrativos Center for Foodborne Illness Research and Prevention [Centro de Pesquisa e Prevenção de Doenças Transmitidas por Alimentos], que desenterrou da literatura médica estudos já esquecidos sobre sequelas permanentes.

Atualmente essa organização conta com uma verba da agência de vigilância sanitária americana para uma pesquisa sobre a melhor maneira de estudar a frequência dos efeitos permanentes posteriores. As pessoas envolvidas com a questão das doenças transmitidas por alimentos reivindicam o desenvolvimento, pelos órgãos de saúde pública, de sistemas mais eficientes para identificação e acompanhamento das vítimas, que, como também defende Clark, deveriam passar a receber tratamento preventivo assim que possível.

“Queremos dimensionar com precisão o ônus da doença porque é nisso que as autoridades se baseiam para determinar as prioridades de saúde pública”, explica Barbara Kowalcyk, cofundadora do centro. “Enquanto nos concentrarmos apenas na fase aguda e não nas complicações de longo prazo, estaremos subestimando o problema.”

Fonte:  Scientific American Brasil
Por: Maryn McKenna
Imagem: Ted Morrison

domingo, 8 de setembro de 2013

Cientistas criam 'minicérebro humano' em laboratório


Miniatura de "cérebro humano" desenvolvida em laboratório por cientistas austríacos
 Miniaturas de "cérebros humanos" foram desenvolvidas em laboratório por cientistas austríacos, em um feito que, segundo especialistas, pode transformar nossa compreensão sobre males neurológicos.
As estruturas criadas, que são do tamanho de ervilhas, alcançaram o mesmo nível de desenvolvimento de um feto de nove semanas, mas são incapazes de pensar.
Segundo os cientistas, que são do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia de Ciências Austríaca, elas reproduzem em laboratório algumas das etapas iniciais de desenvolvimento cerebral.
O cérebro humano é uma das estruturas mais complicadas existentes no universo. O estudo, publicado na "Nature", já foi usado para ampliar a compreensão a respeito de doenças raras. 

DESENVOLVIMENTO
Os cientistas usaram células-tronco embrionárias ou células de pele adulta para produzir a parte do embrião que se torna o cérebro e a espinha dorsal --o ectoderma neural.
Essa parte foi colocada em gotículas minúsculas de gel, que permitiram que o tecido crescesse, e em um biorreator giratório, que provê nutrientes e oxigênio.
As células puderam crescer e se organizar em diferentes partes do cérebro, como o córtex e uma versão inicial do hipocampo, bastante ligado à memória em um cérebro adulto plenamente desenvolvido.
Os pesquisadores creem que essa estrutura chega perto --ainda que não perfeitamente-- do desenvolvimento inicial do cérebro fetal.
Os tecidos chegaram a seu tamanho máximo, cerca de 4mm, em dois meses.
Os "minicérebros" sobreviveram por quase um ano, mas não cresceram além disso. Eles não contavam com suprimento de sangue, apenas de tecido cerebral. Ou seja, nutrientes e oxigênio não puderam penetrar na estrutura.
"Nossos organóides servem para modelar o desenvolvimento do cérebro e para estudar qualquer coisa que cause defeitos nesse desenvolvimento", explicou Juergen Knoblich, um dos pesquisadores.
Segundo ele, o objetivo é ampliar o conhecimento a respeito de distúrbios mais comuns, como a esquizofrenia e o autismo, partindo do princípio de que indícios deles podem surgir na fase de desenvolvimento do cérebro.
A técnica também pode ser usada para substituir camundongos em testes de medicamentos e tratamentos. 

'EXTRAORDINÁRIO'
Pesquisadores já haviam conseguido produzir células cerebrais em laboratório, mas a iniciativa austríaca é a que chegou mais perto de criar um cérebro humano.
Por isso, a novidade chamou atenção entre cientistas.
"É surpreendente", disse à BBC Paul Matthews, professor do Imperial College, em Londres. "A noção de que podemos tirar uma célula da pele e tranformá-la - ainda que seja no tamanho de uma ervilha - em algo que se assemelha a um cérebro é simplesmente extraordinária."
Segundo ele, apesar de o minicérebro não estar se comunicando ou pensando, ele "é o tipo de ferramenta que nos ajuda a entender muitos dos principais distúrbios cerebrais".
Pesquisadores já estão usando a descoberta para investigar uma doença chamada microcefalia, cujos portadores têm cérebros menores do que o normal.
Ao criar um minicérebro com células de pacientes de microcefalia, a equipe conseguiu estudar mudanças no desenvolvimento cerebral dessas pessoas. Percebeu, por exemplo, que as células desses pacientes se adiantavam em sua transformação em neurônios. 

QUESTÕES ÉTICAS
Os pesquisadores em Viena não veem, no momento, nenhum dilema ético em seu trabalho, mas Knoblich afirma que não seria "desejável" fazer cérebros muito maiores do que os já desenvolvidos.
Na opinião de Zameel Cader, neurologista consultor no hospital John Radcliffe, em Oxford, a pesquisa ainda não traz problemas éticos.
"(O minicérebro) está longe de ter consciência do mundo exterior", disse à BBC.
Para Martin Coath, da Universidade de Plymouth, "se (o minicérebro) se desenvolve de maneiras que reproduzem as do desenvolvimento do cérebro humano, o potencial para o estudo de doenças é claro. O teste de medicamentos, porém, é mais problemático. A maioria deles age em coisas como humor, percepção, controle do corpo, dor. E esse tecido que simula um cérebro não tem nenhum dessas coisas ainda". 

Fonte: Folha de São Paulo
DA BBC BRASIL

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Técnica permite medir estado consciente: Teste pode impedir que estado vegetativo seja atribuído por engano a pacientes incapazes de reagir




Equipamento de estimulação magnética transcraniana aplicado por pesquisador gera uma reação do cérebro detectada pelo eletroencefalograma e exibida no monitor

  Quando uma pessoa está em coma, sob anestesia ou em sono profundo, é difícil determinar se ela está ou não consciente. Um caso extremo da incapacidade de responder a estímulos foi descrito no livro O escafandro e a borboleta, assim como no filme homônimo, em que a mente intacta do personagem central estava aprisionada num corpo imobilizado. Em casos como esse, formas tradicionais de avaliar que a pessoa está alerta, como pedir que aperte a mão ou pisque os olhos caso esteja ouvindo, não funcionam. Um novo método que se propõe a verificar de maneira objetiva o nível de consciência, desenvolvido pelo físico brasileiro Adenauer Casali durante o doutorado na Universidade de Milão, na Itália, em colaboração com uma equipe internacional, pode finalmente abrir uma janela sobre a mente de pacientes que não conseguem se comunicar com o meio externo por limitações cognitivas, sensoriais ou motoras. A técnica mereceu a capa da edição desta semana (14/8) da revista Science Translational Medicine.

Os pesquisadores associaram a estimulação magnética transcraniana, uma técnica já usada para outros propósitos no estudo do funcionamento do cérebro (ver Pesquisa FAPESP nº 131), à detecção de sinais por eletroencefalograma para avaliar a capacidade de diferentes partes do cérebro de interagirem e formarem uma percepção ou atividade consciente. “Se uma região do cérebro diz uma coisa e as outras regiões não podem ouvi-la, a resposta do cérebro ao estímulo será simples, indicando que a informação foi perdida no processo de integração. Nessas condições acredita-se que o cérebro, incapaz de integrar informação, seja também incapaz de sustentar uma cena consciente”, explica Casali, que acaba de voltar da Itália e desde julho é pós-doutorando no Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Para ele, associar a consciência (entendida como a capacidade cerebral de sustentar experiências subjetivas) à complexidade da ativação no cérebro é parte do que permitiu o avanço. “É preciso medir a coisa certa”, afirma. Outros estudos usaram parâmetros como a força ou a extensão da atividade cerebral, mas sem sucesso. “Durante uma crise epiléptica, a atividade cerebral pode aumentar, mas a pessoa mesmo assim pode perder a consciência. O importante não é apenas a força ou a extensão da atividade cerebral, mas sim quão complexa ela pode ser.”

Com essa ideia em mente, o físico – que quase virou especialista em teoria das cordas, mas acabou enveredando pela neurociência – comparou a complexidade da ativação cerebral de 32 voluntários saudáveis em diferentes níveis de consciência: quando despertos e alertas, dormindo em sono profundo ou sob efeito de diferentes anestésicos. Os resultados das medições foram claros: sempre que os sujeitos perdiam a consciência, a complexidade da ativação cerebral era drasticamente reduzida. Esses parâmetros foram então comparados aos resultados obtidos em 20 pacientes diagnosticados com diferentes níveis de consciência, alguns deles vítimas da mesma síndrome de Jean-Dominique Bauby, autor de O escafandro e a borboleta. “Em dois pacientes capazes de controlar o movimento de apenas um dos olhos, mas que eram plenamente conscientes, a medida de complexidade cerebral estava na mesma faixa dos sujeitos saudáveis e despertos”, conta Casali.

A aplicação clínica de seus resultados é óbvia: caso entre em uso, a técnica pode evitar que pacientes conscientes sejam erroneamente classificados como vegetativos. Mas ainda será necessário refinar o método, que é indolor e não apresenta riscos, em mais pacientes antes que se possa torná-lo prática corrente nas Unidades de Tratamento Intensivo. O próprio Casali pretende continuar com essa linha de pesquisa, assim que consiga se estabelecer de forma mais permanente em alguma instituição de pesquisa brasileira. “Precisamos apenas do equipamento para coletar os dados, mas essa é a parte mais fácil”, afirma. O conhecimento para fazer a coleta e análise dos dados, que requer um longo aprendizado, ele já tem.

Além da aplicação prática, esses resultados também têm um impacto teórico potencial:a definição de consciência está longe de ser consenso entre especialistas.  Por ser capaz de indicar, com resultados empíricos diretos, uma forte relação entre consciência e complexidade cerebral, o enfoque de Casali pode trazer uma contribuição importante para a compreensão de um dos maiores mistérios da natureza humana.

Artigo científico
CASALI, A.G. et al. A theoretically based index of consciousness independent of sensory processing and behavior. Science Translational Medicine, v. 5, n. 198. 14 ago. 2013
Fonte: Revista Fapesp / Edição Online / agosto de 2013
Por: MARIA GUIMARÃES
Imagem: © ADENAUER CASALI/INCOR-USP