Estudo identifica novos tipos de entorpecentes sob o nome de ecstasy
Os jovens paulistas que turbinam suas baladas usando comprimidos de ecstasy,
uma droga sintética, podem estar comprando gato por lebre. Um estudo
realizado pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São
Paulo constatou que menos da metade, mais precisamente 44,7%, das drogas
sintéticas apreendidas no estado contém o princípio ativo do ecstasy,
a 3,4-metilenodioximetanfetamina, mais conhecida como MDMA. O
levantamento identificou 20 substâncias ativas diferentes nos
comprimidos apreendidos. O trabalho poderá ser usado para ajudar os
serviços de saúde a realizar o tratamento correto em pessoas que vão
parar nos hospitais por causa do uso desse tipo de droga. O trabalho foi
realizado pelo perito criminal José Luiz da Costa, do Núcleo de
Toxicologia Forense da Superintendência da Polícia Técnico-Científica,
em parceria com o bioquímico Rodrigo Resende, do Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O projeto teve como objetivo principal investigar quais eram as substâncias ativas presentes nos comprimidos vendidos como ecstasy.
“Analisamos amostras provenientes de 150 diferentes apreensões
realizadas pela polícia, nas regiões da Grande São Paulo, Campinas, São
José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto, Bauru e Presidente Prudente,
entre agosto de 2011 e julho de 2012”, conta. “A partir dos resultados
obtidos, conseguimos contribuir para um melhor entendimento sobre as
rotas de tráfico das drogas sintéticas, bem como contribuir para a
prevenção, diagnóstico e tratamento das intoxicações agudas causadas por
elas.” A MDMA foi desenvolvida pelo químico alemão Anton Köllisch
(1888-1916) para a indústria farmacêutica Merck, que a patenteou em 24
de dezembro de 1912. Nem seu desenvolvedor nem a empresa imaginaram, no
entanto, o impacto que essa substância viria a ter na cultura clubber,
pautada pelas festas embaladas a música eletrônica, a partir dos anos
1980. O “sucesso” da droga nesse ambiente se deve a alguns de seus
efeitos na fisiologia humana, que incluem o aumento da serotonina,
dopamina e noradrenalina no cérebro, substâncias que causam euforia,
sensação de bem-estar e prazer e eliminam as inibições, o que o deixa o
usuário mais sociável. Por isso, o ecstasy ganhou o apelido de “droga do amor”.
Efeitos Nefastos
Como toda droga de abuso, essa também tem seu lado nefasto, podendo causar sérios danos a quem a consome. Ao lado dos efeitos que os usuários desejam, eventualmente ocorrem náuseas, desidratação (daí a necessidade de beber muita água), hipertermia, hiponatremia (diminuição da concentração de sódio no sangue, que causa inchaço no cérebro) e hipertensão. No limite, esses problemas podem ocasionar exaustão, convulsões e mesmo a morte. Quando ingerida com bebidas alcoólicas, há risco de choque cardiorrespiratório, que também pode matar. Esses efeitos são conhecidos e tratáveis, quando a pessoa intoxicada é levada a um pronto-socorro.
Como toda droga de abuso, essa também tem seu lado nefasto, podendo causar sérios danos a quem a consome. Ao lado dos efeitos que os usuários desejam, eventualmente ocorrem náuseas, desidratação (daí a necessidade de beber muita água), hipertermia, hiponatremia (diminuição da concentração de sódio no sangue, que causa inchaço no cérebro) e hipertensão. No limite, esses problemas podem ocasionar exaustão, convulsões e mesmo a morte. Quando ingerida com bebidas alcoólicas, há risco de choque cardiorrespiratório, que também pode matar. Esses efeitos são conhecidos e tratáveis, quando a pessoa intoxicada é levada a um pronto-socorro.
A situação se complica, no entanto, quando alguém acha que tomou ecstasy
e informa isso aos médicos, mas na verdade consumiu outra droga sem
saber. “As pessoas vão à balada e não sabem mais o que estão tomando”,
diz Costa. Isso potencializa o perigo, porque os sistemas de saúde podem
administrar o tratamento inadequado. Daí a importância dos resultados
verificados no levantamento que o perito realizou. Entre as 20
substâncias detectadas pelo estudo, a segunda mais comum, depois da
MDMA, foi a metanfetamina, presente em 22% das amostras analisadas. Da
mesma classe da anfetamina, mas mais potente e de efeito prolongado, ela
causa dependência e quadro muito semelhante ao da cocaína. Seu efeito é
semelhante, mas também pode causar, a exemplo da cocaína, ansiedade,
agitação, falta de sono e agressividade.
A pesquisa de Costa detectou ainda nas amostras substâncias como
2,5-dimetoxi-4-bromo-feniletilamina (2C-B), anfetamina, anfepramona,
benzocaína, cafeína, cetamina, clobenzorex, efedrina, femproporex,
fenciclidina, fenobarbital, lidocaína e sibutramina. Também foram
identificadas dimetoxianfetamina (DMA), clorofenilpiperazina (CPP),
cocaína, pirovalerona e trifluorometilfenilpiperazina (TFMPP). Nem todas
são ilícitas, mas a grande maioria tem efeitos semelhantes ao da MDMA –
caso contrário, os consumidores não as comprariam. Aí é que está a
esperteza dos traficantes. O ecstasy clássico, puro, vindo da
Europa – principalmente da Holanda e da Bélgica –, dominou o mercado de
drogas sintéticas no Brasil dos anos 1990, quando aqui desembarcou, até a
metade da primeira década deste século. A partir de então, pressionados
pela repressão policial e legal, os grandes produtores e traficantes
mudaram de estratégia. Eles passaram a substituir o MDMA por outras
substâncias, de efeito semelhante, mas vendendo-as como se fossem ecstasy,
em comprimidos de cores e formatos iguais aos do original. “Essa troca
de princípios ativos ocorre praticamente a cada seis meses”, conta
Costa. Hoje, as substâncias da moda são as catinonas sintéticas, um
grupo de droga novo que inclui a mefedrona, a metilona, a
metilenodioxipirovalerona, a flefedrona e a nafirona, também conhecidas
como “sais de banho”. Elas são semelhantes à catinona natural, um
alcaloide encontrado num arbusto chamado khat (Catha edulis), nativo das áreas tropicais da África Oriental e da península Arábica. São estimulantes, com efeitos semelhantes ao ecstasy e às anfetaminas.
Diagnóstico fotônico
Os resultados do trabalho levaram os pesquisadores a pensar no desenvolvimento de um kit diagnóstico para detectar as drogas usadas pelos usuários. Um problema está justamente na estratégia dos traficantes. Quando o kit para uma determinada substância ficasse pronto, ela já teria sido trocada por outra. Porém poderia ser usado para drogas clássicas como cocaína, maconha e os derivados de ambas, além do próprio MDMA e derivações. Resende deu início ao desenvolvimento de um kit usando a nanotecnologia e a espectroscopia Raman, uma técnica fotônica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos segundos, informação química e estrutural de quase qualquer material, composto orgânico ou inorgânico, tornando possível assim sua identificação.
Os resultados do trabalho levaram os pesquisadores a pensar no desenvolvimento de um kit diagnóstico para detectar as drogas usadas pelos usuários. Um problema está justamente na estratégia dos traficantes. Quando o kit para uma determinada substância ficasse pronto, ela já teria sido trocada por outra. Porém poderia ser usado para drogas clássicas como cocaína, maconha e os derivados de ambas, além do próprio MDMA e derivações. Resende deu início ao desenvolvimento de um kit usando a nanotecnologia e a espectroscopia Raman, uma técnica fotônica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos segundos, informação química e estrutural de quase qualquer material, composto orgânico ou inorgânico, tornando possível assim sua identificação.
Resende explica que essa técnica é aplicada diretamente sobre a
amostra que se quer analisar, não sendo necessário fazer uma preparação
especial no material. “Além do mais, não há alteração na superfície em
que se faz a análise, ou seja, o material não é perdido”, diz. “Tivemos
que abandonar o projeto, no entanto, pois a verba acabou e não dava para
continuar colocando dinheiro do próprio bolso”, diz Resende. Diante
disso, Costa diz que a saída são os serviços de emergência em
toxicologia ficarem atentos ao trabalho da polícia científica, para
saber o que está sendo apreendido, ou seja, qual é a “droga da moda”
naquele momento.
Projeto
Avaliação da composição das drogas sintéticas apreendidas no estado de São Paulo: implicações toxicológicas e na inteligência policial (nº 2011/06849-2); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável José Luiz da Costa (Superintendência da Polícia Técnico-Científica); Investimento R$ 46.260,70.
Avaliação da composição das drogas sintéticas apreendidas no estado de São Paulo: implicações toxicológicas e na inteligência policial (nº 2011/06849-2); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável José Luiz da Costa (Superintendência da Polícia Técnico-Científica); Investimento R$ 46.260,70.
Artigo científico
Togni, L. R. et al. The variability of ecstasy tablets composition in Brazil.Journal of Forensic Sciences. v. 60, n. 1, p. 147-51. jan. 2015.
Togni, L. R. et al. The variability of ecstasy tablets composition in Brazil.Journal of Forensic Sciences. v. 60, n. 1, p. 147-51. jan. 2015.
Revista Fapesp on line ed.228 / 2015
EVANILDO DA SILVEIRA
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