Teste se mostrou mais preciso do que o PSA para detectar a doença. No entanto, ainda não é alternativa e sim um complemento para esse exame ou o de toque retal
Vivian Carrer Elias
Câncer de próstata: Universidade e laboratório da
Grã-Bretanha fazem acordo para a produção de novo exame para diagnóstico
da doença
(Creatas Images/Thinkstock)
Um novo teste para diagnosticar o câncer de próstata de forma mais
rápida e prática do que os exames disponíveis atualmente pode chegar ao
mercado no ano que vem. Ele consiste em identificar, na urina do
paciente, a presença de uma proteína chamada engrailed-2, ou EN2, que é
produzida por células cancerígenas da próstata.
Em anúncio feito nesta semana, pesquisadores da Universidade de
Surrey, na Grã-Bretanha, onde o exame EN2 foi desenvolvido, revelaram
uma parceria com o laboratório britânico Rodox, que vai passar a
fabricar e comercializar o teste a partir dos estudos desenvolvidos pela
universidade. Para que possa ser aplicado na prática clínica, porém, o
exame ainda precisará ser submetido à aprovação das agências reguladoras
de cada país em que ele for utilizado.
Atualmente, o diagnóstico do câncer de próstata é feito
principalmente pelo exame de PSA (proteína presente no sangue que, em
altos níveis, pode indicar a doença) e o de toque retal. Um exame não
exclui o outro – o ideal é que o paciente seja submetido aos dois
testes. Isso porque, enquanto o PSA fornece informações como a
progressão da doença e as chances de recorrência do câncer, o exame de
toque pode dizer qual é a extensão do tumor e ajudar o médico a escolher
o melhor tratamento para cada caso. Se derem positivo, os resultados de
ambos os exames precisam ser confirmados por uma biópsia.
Precisão — Um estudo
mostrou que o teste de urina que mede a proteína EN2 detecta o câncer
de próstata com uma precisão aproximadamente duas vezes maior do que a
do exame de PSA. “Enquanto o novo teste parece diagnosticar entre 60% e
70% dos tumores na próstata, o PSA, sozinho, identifica cerca de 30% a
40%”, diz Gustavo Cardoso Guimarães, cirurgião oncologista e diretor de
urologia do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.
Além disso, a mesma pesquisa indicou que ele praticamente não oferece
falsos diagnósticos positivos. Segundo os resultados, o teste de urina
deu o diagnóstico correto a 90% dos pacientes que não tinham câncer de
próstata. Os outros 10% apresentavam um grau muito pequeno da doença,
que não era clinicamente significante.
Segundo Guimarães, isso pode evitar procedimentos invasivos e
tratamentos desnecessários em pessoas que têm a doença, mas que
não apresentarão sintomas clínicos ou terão a saúde prejudicada. Essa é
uma vantagem sobre o PSA, que costuma dar resultados falsamente
positivos. "Dois terços dos pacientes submetidos à biópsia após o PSA
indicar suspeita de câncer não possuem a doença”, diz o médico.
Características — O novo teste de urina também
parece dar informações sobre a extensão da doença, ou seja, o quão a
próstata está comprometida com o tumor, segundo um estudo
publicado em 2012. No entanto, o exame não diz qual é a gravidade da
doença e nem prevê se haverá recorrência do tumor – o que pode ser
detectado com o PSA. Além disso, diferentemente do exame de toque retal,
não possibilita que o médico identifique o volume da próstata, o
tamanho dos tumores locais ou o melhor tratamento para o paciente.
Por isso, o exame de urina, se for provado eficaz em pesquisas
maiores e mais relevantes, não eliminaria a necessidade de o paciente
passar pelos exames de PSA e de toque, mas sim serviria como um
complemento não invasivo e mais prático para um diagnóstico mais
preciso.
"É um teste extremamente promissor, mas ainda precisa ser submetido
a pesquisas maiores para que receba a aprovação das agências
reguladoras. Se for comprovado, sem dúvidas trará um enorme benefício
aos pacientes”, afirma Guimarães. "Esse teste pode levar a um
diagnóstico mais rápido, o que ajudaria a salvar milhares de vidas, além
de ter o potencial de reduzir os custos com a doença", diz Hardev
Pandha, professor da Universidade de Surrey que coordenou as pesquisas
sobre o novo exame.
Fonte: Revista Veja - março de 2014
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