Atrasado na sua implantação há dez anos, o teste de sangue fabricado pelo governo brasileiro (NAT) e já utilizado no SUS para a detecção precoce do vírus HIV e da hepatite C tem falhas, segundo hematologistas brasileiros.
O teste NAT (ácido nucleico) reconhece o
material genético do vírus e detecta a sua presença mais cedo no organismo do
que o convencional (Elisa). O nacional é feito pelo instituto Bio-Manguinhos,
da Fiocruz. Os comerciais são da Roche e da Novartis.
O alerta foi feito durante congresso da
ABHH (Sociedade Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular). Os
médicos devem pedir que o Ministério da Saúde interrompa a distribuição do
teste nacional NAT até que as falhas sejam corrigidas.
Segundo Dante Langhi Junior, diretor da
ABHH e médico do hemocentro da Santa Casa de São Paulo, vários serviços
relataram problemas. "A gente testa com o Elisa e dá positivo [para Aids
ou hepatite], depois testa com o NAT do governo e dá negativo. Volta a testar a
mesma amostra com o NAT comercial e dá positivo. O teste do governo não garante
a segurança a que ele se propõe."
Não há notícias, porém, de que tenha havido
contaminação por conta dessas falhas.
Em 12 amostras de sangue testadas pelo
Hemocentro de Ribeirão Preto, ligado à USP, o NAT nacional não detectou o HIV
em oito delas. "Ele falha numa grande proporção dos casos", diz o
diretor Dimas Tadeu Costa.
Segundo ele, a sensibilidade do teste é
estimada em 30 partículas virais. Mas o NAT nacional só conseguiu perceber a
presença do HIV quando havia 500 partículas. "Isso é que faz a diferença
na janela imunológica. Quanto menos vírus se consegue detectar, maior é a
segurança da transfusão." Ele decidiu não usar mais o NAT nacional.
"Não existe transfusão com risco zero.
Mas, se temos testes que comprovadamente minimizam os riscos de transmissão de
doenças, temos obrigação legal de utilizá-los", afirma Langhi Junior.
Na opinião de José Augusto Barreto,
superintendente da Colsan (Associação Beneficiente de Coleta de Sangue), o
ministério se precipitou em incluir o teste na rotina.
OUTRO LADO
Durante o congresso, o coordenador da área
de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, disse que
o teste está em fase de desenvolvimento e que os problemas são "totalmente
solucionáveis".
"Temos soluções tecnológicas e
ajustes, mas nenhum problema que invalide o teste", afirmou. Ele garantiu
ainda que esses ajustes acontecerão até a publicação da portaria, que tornará o
teste obrigatório, prevista para sair até o final do mês.
Fonte: Folha de São Paulo - 13/11/ 2012
Cláudia Collucci - ENVIADA ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
Ayrton Vignola - 25.fev.2005/Folhapress
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