A exigência de doze horas de jejum antes de
um exame de colesterol é desnecessária para a maioria da população, segundo um
novo estudo publicado ontem na versão on-line da revista "Archives of
Internal Medicine".
O longo período sem comer é recomendado
para evitar que os alimentos ingeridos pouco antes do teste possam influenciar
os resultados, especialmente os dos triglicérides, cujos valores também podem
mudar após a ingestão de álcool.
Essa medida das gorduras no sangue é usada
pela maioria dos laboratórios para calcular o nível de LDL (colesterol
"ruim") na circulação.
Mas a equipe da Universidade de Calgary, no
Canadá, ao analisar dados de 210 mil pessoas submetidas a testes de colesterol
após períodos em jejum (de 1 a 16 horas), mostrou que a discrepância causada
pela alimentação é pequena demais para manter a velha recomendação.
Para as medidas de colesterol total e
colesterol "bom" (HDL), a diferença máxima de resultados foi de 2%.
Para LDL, até 10% e, para triglicérides, até 20%
PRODUÇÃO PRÓPRIA
Segundo o cardiologista Antonio Gabriele
Laurinavicius, da unidade de check-up do hospital Albert Einstein, a diferença
pequena entre os resultados se deve ao fato de que a maior parte do colesterol
é produzida pelo próprio corpo. "O fígado fabrica boa parte do colesterol,
e essa produção é constante, pouco muda com a alimentação."
Os triglicérides mudam mais porque são
absorvidos no intestino após as refeições.
Outro ponto a favor de abolir o jejum é a
praticidade para o paciente, que muitas vezes acaba adiando os testes quando
não consegue cumprir as exigências. Para os autores do estudo, acabar com esse
problema seria muito melhor do que ter a medida mais precisa possível do
colesterol feita em jejum.
"O jejum cria dificuldades logísticas.
A maior parte das coletas é feita de manhã, o que superlota os laboratórios,
cria transtornos nos horários de trabalho dos pacientes e tudo isso gera
custos, horas perdidas em filas", afirma Laurinavicius.
De acordo com Raul Santos, chefe da unidade
de lípides do Incor (Instituto do Coração do HC da USP), especialistas
americanos defendem o uso do colesterol total e do HDL (que não variam segundo
o jejum) para medir o risco cardíaco, dispensando os triglicérides.
"O uso do 'não HDL' [colesterol total
subtraído do colesterol 'bom'] é mais barato, e as medidas são precisas."
Para o patologista Nairo Sumita, assessor
médico do Grupo Fleury de laboratórios, ainda faltam evidências científicas que
justifiquem uma mudança quanto ao jejum agora, mas a tendência é reduzir as
exigências para aumentar a adesão dos pacientes aos testes.
Laurinavicius, do Einstein, lembra que, com
mais pesquisas, os requisitos podem mudar, mas quem faz teste de glicemia junto
com o colesterol vai continuar a ter de seguir o período de jejum.
Fonte: Folha de São
Paulo – 13/11/2012
Débora Mismetti EDITORA-ASSISTENTE DE
"CIÊNCIA+SAÚDE"
William Mur/Editoria
de Arte/Folhapress