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domingo, 8 de junho de 2014

Baixo uso de cobaias fêmeas pode estar desviando resultados de pesquisas

Camundongos ou ratos, porcos ou cachorros, os animais usados em laboratórios normalmente eram machos: os pesquisadores evitavam usar fêmeas pelo receio de que seus ciclos reprodutivos e flutuações hormonais pudessem interferir nos resultados de experimentos calibrados. 
Escolha um medicamento ou tratamento, e provavelmente os pesquisadores sabem muito mais sobre seu efeito em homens.
As mulheres têm sido surpreendidas por efeitos colaterais e erros de cálculo em dosagens que só são descobertos quando o produto chega ao mercado. Agora os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos dizem que esse viés de gênero na rotina de pesquisa precisa acabar.
Recentemente, na revista "Nature", os médicos Francis Collins, diretor dos NIH, e Janine Clayton, diretora do departamento da agência para pesquisas sobre a saúde da mulher, alertaram os cientistas de que é preciso começar a testar suas teorias em fêmeas e em tecidos femininos.
As mulheres experimentam efeitos colaterais mais severos em tratamentos novos, segundo estudos. No ano passado, a FDA (agência que regula os setores de fármacos e alimentos nos EUA) recomendou que as mulheres reduzissem pela metade as doses do sonífero Ambien, por exemplo, porque novos estudos mostraram que elas metabolizam o ingrediente ativo mais lentamente do que os homens.
As estatinas, a classe de drogas mais prescrita nos EUA, foram testadas principalmente em homens, e a comprovação do seu benefício para mulheres é limitada. As mulheres respondem de maneira diferente a uma série de tratamentos e frequentemente não obtêm os mesmos benefícios que os homens. As ideias para novos tratamentos são frequentemente geradas em laboratório, onde há um arraigado viés de gênero na pesquisa biomédica básica e na neurociência.
O viés em testes com mamíferos ficou evidente em oito de dez disciplinas científicas incluídas numa análise de pesquisas já publicadas, conduzida por Irving Zucker, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Na neurociência, estudos feitos exclusivamente com animais machos superavam os feitos apenas com fêmeas numa proporção de 5,5 para 1.
Mesmo quando os pesquisadores estudam doenças mais comuns em mulheres -incluindo depressão e esclerose múltipla-, os animais machos frequentemente são mais usados, segundo Zucker.
Jill Becker, da Universidade de Michigan, descobriu que as mulheres aumentam o uso de medicamentos muito mais rapidamente do que os homens e que o hormônio estradiol desempenha um papel importante nesse crescimento. Ainda assim, os pesquisadores que estudam o aumento do uso de drogas em ratos e camundongos se apoiam quase que totalmente em machos, disse Becker. "Um dos pressupostos básicos tem sido o de que as fêmeas são simplesmente uma variação sobre um tema, que não são um mecanismo fundamentalmente diferente, que se você aprendeu sobre o macho, já sabe o suficiente para lidar com machos e fêmeas", diz ela. "Descobrimos que nem sempre é o caso."
Os pesquisadores também têm sido incentivados a estudar as células que se originam de fêmeas bem como de machos. "Toda célula tem um sexo", disse Clayton. "Cada célula ou é masculina ou é feminina, e essa diferença genética resulta em processos bioquímicos diferentes dentro dessas células." 
 
Fonte: Folha de São Paulo on line
Por: RONI CARYN RABIN DO "NEW YORK TIMES"

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