Colaboradores

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um refrigerante ao dia aumenta risco de obesidade infantil: Ingestão de bebidas doces pelas crianças pode causar obesidade antes dos 5 anos


Crianças pequenas que tomaram bebidas açucaradas diariamente eram mais gordas aos 5 anos.

É sabido que refrigerantes, bebidas energéticas, e outros refrescos açucarados contribuem para o problema da obesidade dos americanos. Essa associação levou alguns formuladores de políticas a enfrentar o problema restringindo o acesso aos produtos ou as doses servidas.

Isso inclui o esforço do conselho de saúde de Nova York de proibir restaurantes, delicatessens, cinemas, carrinhos de lanches e estádios de venderem bebidas adoçadas em copos de mais de 0,473 litro.

Agora, menos de uma semana depois de um tribunal de apelação ter vetado a proibição proposta (a decisão foi tomada em 30 de julho), um estudo na revista Pediatrics encontrou evidências de que o link entre bebida açucarada e obesidade ocorre na população mais jovem a ser estudada nessa dimensão: crianças bem pequenas e em idade pré-escolar.

Acompanhando 9.600 crianças desde o nascimento até os cinco anos de idade, os pesquisadores identificaram um padrão de consumo de bebidas açucaradas em crianças a partir dos dois anos, o que preparou o terreno para que engordassem excessivamente alguns anos depois.

As bebidas estudadas incluem refrigerantes, bebidas energéticas esportivas, outras bebidas com adição de açúcar, refrescos e sucos que não eram 100% puros.

A envergadura do estudo e o longo período de acompanhamento tornaram suas conclusões particularmente valiosas para médicos como Dyan Hes, diretor da clínica Gramercy Pediatrics em Manhattan, que tem feito um lobby a favor de políticas públicas, como impostos sobre refrigerantes, que tornariam essas bebidas menos atraentes para as famílias.

“O estudo é fantástico, porque precisamos de mais provas”, diz Hes. “Sabemos que as bebidas açucaradas são as maiores contribuintes para o aumento da obesidade em crianças, porque elas são baratas. Isso mostra que ao dar bebidas adoçadas a seus filhos aos dois anos de idade, você está criando hábitos que são muito difíceis de abandonar”.

O estudo não constatou que crianças de dois anos que tomavam pelo menos uma bebida açucarada por dia ganhavam peso de imediato em comparação com seus coleguinhas que não as bebiam; mas as crianças que consumiram bebidas açucaradas diariamente eram mais gordas aos cinco anos.

De fato, elas se revelaram 1,43 vezes mais propensas à obesidade que crianças em idade pré-escolar que não consumiam bebidas açucaradas diariamente, inclusive depois de considerar outros fatores que poderiam influenciar o ganho de peso.

Mark DeBoer, professor assistente de pediatria da University of Virginia, diz que os resultados sustentam a hipótese de que o consumo regular de bebidas adoçadas com açúcar tem um efeito cumulativo de longo prazo. “Ficamos impressionados com os dados que mostraram que mesmo em uma idade muito jovem, as bebidas açucaradas contribuem para o ganho de peso”, comenta DeBoer, “e queríamos disponibilizar essas informações aos pediatras e às famílias para ajudá-los a fazerem escolhas mais saudáveis para seus filhos”.

 BEBIDAS AÇUCARADAS VERSUS ESTILOS DE VIDA PREJUDICIAIS

As entrevistas também revelaram um padrão que se repetiu em outros estudos: que o consumo de bebidas açucaradas está correlacionado a fatores adicionais, já ligados à obesidade.

Entre as crianças que bebiam pelo menos uma porção de bebida doce por dia, uma proporção maior tinha mães com sobrepeso ou obesas; e uma proporção maior também assistia pelo menos duas horas de televisão por dia em comparação às crianças que consumiam esses refrescos com menor frequência.

Além disso, um número maior de consumidores de refrescos açucarados eram negros, hispânicos ou procedentes de famílias de baixa renda.

Todos esses fatores demonstraram comprovadamente que as bebidas desempenham um papel (relevante) no ganho de peso incomum entre crianças. Os ajustes para essas variáveis nesse estudo, porém não conseguiram eliminar a ligação entre bebidas açucaradas e obesidade aos cinco anos.

Ainda assim, Yoni Freedhoff, especialista em obesidade e professor assistente de medicina familiar na University of Ottawa, argumenta que estudos como esse também deveriam controlar a frequência com que as famílias comem fora; a regularidade com que todos comem juntos; os horários das refeições e dos lanches; os tipos de refeições que consomem, se “pulam” o café da manhã; e quanto suco ou leite achocolatado bebem.

“Talvez as bebidas adoçadas com açúcar sejam um marcador para outros problemas alimentares e preocupações”, pondera Freedhoff, embora concorde que as bebidas adoçadas contribuam para um ganho de peso prejudicial.

A equipe de DeBoer tem alguns desses dados adicionais, mas é difícil abordar estatisticamente muitos fatores ao mesmo tempo em uma população de quase 10 mil crianças.

Em contrapartida, Walter Willet, epidemiólogo nutricional na Harvard School of Public Health, concorda que controles rígidos dos fatores de estilo de vida são importantes, mas endossa a análise feita nesse estudo.

“O nível socioeconômico, o IMC [índice de massa corporal] dos pais e a frequência televisiva estão fortemente correlacionados a outros indicadores de estilo de vida, que são potenciais fatores de confusão”, diz Willett.

“Isso quer dizer que eles controlaram outras variáveis indiretamente, pelo menos em parte”. Além disso, algumas das descobertas anteriores que vinculam bebidas açucaradas e obesidade em crianças mais velhas e adultos incluem ensaios clínicos aleatórios. Sendo assim, dada a biologia subjacente semelhante para ganho de peso entre diferentes grupos etários, os resultados de DeBoer provavelmente são válidos, diz ele.

MAIS CALORIAS, MENOS SENSAÇÃO DE PLENITUDE

Há um consenso geral sobre o porquê as bebidas adoçadas com açúcar são tão relevantes no ganho de peso.

As calorias de bebidas tipicamente não saciam. “Se você beber 110 calorias com sua refeição, não comerá 110 calorias menos de alimentos”, explica Freedhoff. “Deveríamos reduzir o consumo de calorias líquidas de todas as fontes, independente da nossa idade. Não estou ciente de qualquer bebida cujos benefícios de saúde não possam ser obtidos de sólidos muito mais saciantes”.

De fato, diversos estudos anteriores constataram que crianças que ingerem regularmente bebidas adoçadas com açúcar têm uma ingestão calórica total diária de 17 a 20% maior.

Embora um editorial que acompanhou o estudo de DeBoer tenha sugerido o leite como bebida alternativa (que pode saciar mais e, talvez, substituir algumas calorias alimentares), tanto o estudo de DeBoer como o de Willett concluíram que o leite desnatado e o semidesnatado, com 1% de gordura, estão ligados ao ganho nocivo de peso em crianças.

Ainda não há uma avaliação conclusiva quanto ao leite integral. “Eu adoraria ver alguns estudos sobre as calorias líquidas como um todo, em vez de tentar analisar detalhadamente ou demonizar uma bebida em particular”, declara Freedhoff.

No entanto, ele lamenta que a lei de Nova York não tenha sido aprovada, porque ela poderia ter ajudado a tornar os consumidores mais conscientes de suas escolhas.

De acordo com Hes, a rejeição da lei provavelmente resultou de problemas logísticos com sua execução.

“Em grande escala ela simplesmente era uma regra muito complicada de implementar”, diz ele. “Acredito que é muito melhor criar um imposto, como é feito com os cigarros. Se as bebidas adoçadas com açúcar tiverem um imposto adicional, as pessoas comprarão menos. (Atualmente) Elas são muito acessíveis”.

Independentemente do que será feito, Freedhoff acredita que as bebidas com calorias adicionais podem ser um bom ponto de partida. “Dada à facilidade com que as calorias líquidas podem ser cortadas da nossa dieta, elas são um primeiro alvo muito real e óbvio se estamos falando de obesidade e peso”, diz ele.

Fonte: SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL
Por: Tara Haelle
Imagem: AnneMS/Shutterstock

A Ciência Pode Acabar? Cientistas refletem sobre o possível fim da ciência como conhecemos

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 Um dos principais marcos da cultura ocidental é o advento da ciência, que não só tem permitido o desenvolvimento das principais tecnologias da atualidade, mas também satisfaz aquela outra sede, tão  particularmente humana, a sede de conhecer.

A compreensão do mundo material favorecida pelo método científico não tem comparação com qualquer outra via de obtenção de conhecimentos. Um dos sustentáculos da atividade científica é precisamente um amplo compartilhamento de dados, conceitos, ideias, não só entre cientistas, mas também com o público em geral.

Imagine se um dia esse fluxo de conhecimentos cessasse. Como ficaríamos?

O tema já foi explorado sob diferentes ângulos, como, por exemplo, fez John Horgan em seu O fim da ciência – Uma discussão sobre os limites do conhecimento científico (Cia. das Letras, 1996). Neste livro, Horgan entrevista cientistas e intelectuais perguntando, entre outras coisas, se eles creem ter o conhecimento científico atingido um apogeu e, a partir de agora, não ser mais capaz de avançar significativamente, muito menos prover benefícios reais à humanidade. O conhecimento possível teria atingido um limite – já saberíamos tudo que há para saber – por que a Natureza não teria muito mais coisas escondidas de nossos “sentidos ampliados pelas tecnologias”, que são as ferramentas da ciência empírica.

Essa ideia de um limite físico do conhecimento já foi postulada por alguns cientistas no final do século 19, mas bastou surgirem a relatividade, a mecânica quântica e a biologia molecular, por exemplo, para evidenciar o tamanho do equívoco.

Há, também, a perturbadora possibilidade de que o limite seja de natureza cognitiva, que limitações em nossa própria estrutura mental – como os conhecimentos a priori de causa e tempo, apontadas por Kant, por exemplo – acabem impedindo nossa compreensão do mundo a partir de certo nível de complexidade.

Embora essa ideia esteja longe de ser demonstrada, há quem proponha – num flerte com a ficção científica – que, se nós não pudermos, máquinas inteligentes desenvolvidas por nós, poderiam. Só o tempo dirá.

Mas pode ser que os limites do conhecimento sejam atingidos muito antes de arranharmos esses hipotéticos obstáculos, e por razões bem mais mundanas: causas sociais.

Já Mario Bunge, físico e filósofo da ciência argentino, advertia que a ciência como a conhecemos pode desaparecer, e que até mesmo “já morreu várias vezes”, referindo-se ao ocaso da Grécia clássica – simbolizada pela segunda destruição da Biblioteca de Alexandria e ascensão do pragmatismo romano −
e ao interregno vivido pela ciência italiana sob o fascismo.

Mas não é necessário invocar situações tão dramáticas. O Nobel em física de Stanford, Robert B. Laughlin, formulou uma crítica que surpreendeu a muitos em seu livro de 2008, The crime of reason and the closing of the scientific mind (“O Crime da Razão – O fim da mentalidade científica”, ainda sem tradução aqui).

Laughlin descreve o atual quadro de crescentes restrições no acesso ao conhecimento pelo grande público e mesmo pela comunidade científica em função de legislações de proteção comercial, patenteamentos abusivos, profusão de processos judiciários sobre propriedade intelectual e a onipresença da propaganda comercial.

A alegação soa um tanto contraintuitiva para quem vive em meio à era da internet, onde tudo parece estar ao alcance de todos, mas Laughlin constrói bem seu caso, em um estilo leve e bem embasado: na internet, a escalada comercial cria tanto ruído que é cada vez mais difícil encontrar informações realmente valiosas (exceto mediante pagamento); na pesquisa científica, estudos relevantes são bloqueados por demandas judiciais patentárias, ao passo que nos Estados Unidos chega a ser arriscado ter ou dar acesso, mesmo que acidentalmente, a conhecimentos tidos como “perigosos”.

A Suprema Corte americana, mesmo após decidir que princípios matemáticos e leis da Natureza não podiam ser patenteados, acabou autorizando o patenteamento de programas de computador e de trechos do código genético humano: a crise de legitimidade vivida pelo atual sistema de propriedade intelectual, infelizmente, também se dá longe dos olhos do público.

Se Laughlin estiver certo, existe um conflito fundamental entre as necessidades de segurança e prosperidade econômica em nossa sociedade, por um lado, e o direito humano de conhecer e aprender – fruto dessa necessidade que nos distingue, como humanos, dos outros animais. O futuro do conhecimento
científico depende de sua resolução.

O bom é que, enquanto os limites físico e cognitivo são externos e pouco podemos fazer para superá-los, a limitação social é de origem humana, logo comporta soluções, ainda que difíceis.

Precisou um Prêmio Nobel para dar voz a essa preocupação sem cair no lodaçal das “teorias conspiratórias”. Ainda há tempo para reverter essa tendência, deixando definitivamente para trás esses tempos que Laughlin, com ironia, denominou de era da amnésia 

Fonte: SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL
Por: Jorge A. Quillfeldt

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Matemáticos defendem intervenções randômicas contra surtos de doenças: Publicação recente mostra eficácia de tratamentos com intervalos variados


A aleatoriedade nos cronogramas de tratamento pode ajudar a controlar um surto de doença. 
Docent/Shutterstock

É grande o esforço de fazer com as pessoas se vacinem contra a gripe nas últimas semanas de verão: o trabalho, a escola, os horários limitados de funcionamento das farmácias, os dias de praia e inúmeros outros fatores conspiram para interferir.

Consequentemente, as vacinações tendem a se arrastar por muitos meses. Em vez de resistirem à tendência, alguns matemáticos acreditam que as autoridades da saúde pública algum dia poderão até adotá-la. Um pouco de aleatoriedade em cronogramas de tratamentos de fato podem até ajudar a controlar um surto de doença.

A conclusão resulta de uma análise das opções de tratamento em surtos de doenças infecciosas usando a teoria da complexidade, que tenta conferir sentido a sistemas fundamentalmente imprevisíveis.

Empregando a teoria da complexidade para estudar epidemias, pesquisadores identificaram situações raras em que elas desaparecem de repente.

Digamos, por exemplo, que agentes da saúde ministrem antibióticos para combater um surto de meningite bacteriana fazendo com que as infecções diminuam. Um modelo clássico da doença indicaria que toda pessoa infectada deve ser isolada e tratada antes que a doença seja controlada.

A teoria da complexidade, no entanto, mostra que, ocasionalmente, ela desaparecerá devido a fatores aleatórios e imprevisíveis.

É impossível prever um “evento randômico de extinção” desse tipo, mas uma nova pesquisa mostra que o timing criterioso de tratamentos preventivos pode aumentar as chances de que isso ocorra.

Saber como variar esses períodos para tornar os eventos de extinção mais prováveis poderia ser extremamente útil em países em desenvolvimento, onde os suprimentos de produtos farmacêuticos muitas vezes são limitados e os tratamentos não estão disponíveis durante o ano todo, mas são ministrados em determinadas épocas do ano.

Esse frequentemente é o caso quando uma organização de ajuda humanitária gerencia os tratamentos à distância.

Ira Schwartz, um matemático aplicado e físico do Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos e colaboradores fizeram uma simulação computadorizada para modelar o comportamento geral de doenças infecciosas em uma população de oito mil pessoas. A simulação levou em conta o elemento da aleatoriedade e comparou o resultado de dois cenários distintos: um em que o tratamento foi fornecido a intervalos regulares e outro em que os intervalos eram irregulares (randômicos).

Eles compararam os dois cenários para doenças infecciosas como a meningite bacteriana, doenças venéreas e a peste, que são tratadas em grande parte com antibióticos.

Os resultados mostraram que nos casos em que o tratamento só pode ser ministrado em fases de duas a oito vezes por ano, o cronograma aleatório resultou em uma redução exponencial do tempo para que ocorresse um evento de extinção randômico; ou seja, uma doença desapareceu mais rapidamente. “A pesquisa demonstra por que cronogramas de tratamento irregulares funcionam”, diz Schwartz, coautor do artigo publicado na revista PLoS ONE, em agosto.

Em 2008, Schwartz foi coautor de outro artigo que utilizou modelos semelhantes para testar o efeito da vacinação aleatória em membros novos da população (crianças) e mostrou decréscimos semelhantes no tempo de extinção de doenças.

Na nova publicação os pesquisadores especulam que, se os tratamentos de doenças são ministrados duas vezes por ano, com um intervalo de seis meses, a doença pode ter tempo para recuperar sua força entre as doses.

Em um cronograma randômico, no entanto, essas doses podem ser ministradas mais perto uma da outra aumentando a probabilidade de que a segunda aplicação atacará a doença enquanto ela está enfraquecida.

Essa combinação particularmente eficaz de duas “investidas” seguidas aumenta a possibilidade da ocorrência de um evento de extinção randômico. (Embora os pesquisadores possam calcular as probabilidades de um evento desses, em última instância eles continuam imprevisíveis.)

Por essa razão, os pesquisadores concluem que quando os recursos são limitados, o tratamento deve ser ministrado a uma porcentagem maior da população em algumas poucas etapas randômicas, porém próximas umas das outras, em vez de em muitas fases menores que atendem menos pessoas.

Com mais pesquisas sobre a interação randômica entre tratamento e doença é possível que os cientistas façam mais sugestões de como melhor ministrar os tratamentos, particularmente em lugares onde os suprimentos e os recursos humanos são limitados.

Charles Doering, diretor interino do Centro para o Estudo de Sistemas Complexos da University of Michigan, diz que a equipe de Schwartz é uma das poucas que estuda como a aleatoriedade em cronogramas de tratamento pode afetar a evolução de uma doença infecciosa.

Embora os pesquisadores tenham utilizado modelos bem estabelecidos de como as doenças se propagam e sobrevivem em populações humanas, suas técnicas matemáticas para levar em conta a aleatoriedade, desenvolvidas a partir de mecânica quântica, são difíceis de serem aplicadas em modelos de doenças. “Nunca se sabe ao certo”, diz ele. “Se você alterasse qualquer parte da estrutura do modelo, talvez as conclusões mudassem”.

No entanto, o trabalho pode inspirar outros estudos com simulações computadorizadas mais abrangentes ou experimentos laboratoriais que testem essas teorias em populações de micro-organismos vivos. “Isso constitui um ponto de partida; uma hipótese de trabalho para se investigar”, acrescenta.

Fonte: Scientific American Brasil
Por: Calla Cofield